"Ouvi outro dia a cantilena do comprador de roupa velha, quando amanhecia. Soube que se tratava do filho do judeu de minha infância, imitando o sotaque e a cantilena do pai. Sons que desaparecem, que voltam, formam o ambiente acústico dos bairros." Assim que li esta passagem do livro "Memória e Sociedade: lembranças de velhos" (2009, p.444), de Ecléa Bosi, lembrei do que escreveu Ramazzini a respeito das profissões exercidas pelos judeus no século XVII. Eram poucas as toleradas ou permitidas. Dentre elas, a reforma e costura de roupas velhas. De acordo com o pai da Medicina do Trabalho, os judeus "Enganam o povo incauto vendendo-lhe objetos usados, porém com defeitos habilmente consertados, e ganham seu sustento retocando objetos”. (Vide "Doenças dos Judeus”, postado em agosto de 2017). No fundo, a cantinela do comprador de roupa velha avisava que a tradição, a história do povo judeu fazia parte da São Paulo da primeira metade do século XX.
terça-feira, 5 de maio de 2020
sexta-feira, 1 de maio de 2020
Cavanhaque do bode
Mas tratei e consegui curar com simpatia. Só que eles não podem saber. Esse remédio só cura dos sete aos quinze anos. Quantas crianças eu curei! A amostra está aí dentro de casa. Me ensinaram a tirar a barba do cavanhaque do bode; eu torrava na frigideira e socava num paninho bem socadinha e coava numa peneirinha bem fininha que eu tinha e dava pra eles misturado no chá, no leite. Mas precisava fazer três meses na primeira sexta-feira do minguante. Fiz isso bem direitinho e guardava no vidro, pois dizia... "sempre vou achar bode?". Pra eles arrancarem o fio da barba já xingavam tanto a gente!
(Bosi, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. 15. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. D. Risoleta. p. 393-394)
(Bosi, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. 15. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. D. Risoleta. p. 393-394)
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