Jovem, morena, provavelmente com ascendência africana e indígena pernambucana, mas não certa disso, pois como muitas negras ou cafuzas, não tem acesso a documentos que esclareçam suas raízes mais profundas. O sorriso bonito e costumeiro esconde o fardo de ser mãe órfã, dedicada, sozinha, dependente de auxílio do Estado. O filho de doze anos frequenta a escola de sete e meia às quatro e meia. O menor precisa chegar na creche até às sete, mas fica lá somente durante a manhã. Impossível trabalhar de carteira assinada. Faz bicos. A desaparição da favela coincidia com a dispersão da vizinhança, das amigas e o sumiço das prosas, das festas, dos encontros, das confusões, das cervejas em roda. As crianças já sentiam falta dos amigos para jogar bola, brincar de pega-pega e esconde-esconde à noite, da turma da Unicamp para desenhar e brincar aos sábados. O desespero foi aumentando e não encontrava algum ombro amigo naquele semideserto urbano. Não hesitou ao afirmar que preferia a favela porque lá tinha certeza de conseguir criar os filhos. “No bairro novo, vai ficar mais cara a água, a luz, a construção da casa. Será que vou dar conta disso? Muitas famílias não vão voltar. Nunca mais será como antes”.
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