… il s’est approché de moi et puis de fil en aiguille il s’est mis à me parler d’un voyage qu’il a fait il y a quelques semaines, en Angleterre, pendants les vacances d’été, dans un service hospitalier où on s’occupe des personnes qui vont mourir… Je sais, ça a l’air sinistre, quand je dis ça, mais ça ne l’était pas quand il m’en parlait. Il m’expliquait que, là-bas, on ne laisse pas les gens mourir dans la douleur, on leur donne des médicaments qui les soulagent sans les assommer, et qui leur permettent de finir leur vie tranquillement, de réaliser les choses dont ils ont envie pendant le temps qu’il leur reste - ranger leurs affaires, faire un voyage pour aller visiter un château, une église qu’ils ont toujours voulu voir, se réconcilier avec leur parents ou leurs enfants, raconter leur vie por qu’il en reste quelque chose…
…ele aproximou-se de mim e depois uma coisa levou à outra e começou a falar-me de uma viagem que fez há algumas semanas, na Inglaterra, durante as férias de verão, a uma ala hospitalar onde cuidam de pessoas que vão morrer... Eu sei, parece sinistro quando digo isto, mas não foi assim quando ele me falou sobre isso. Explicou-me que, ali, não deixam morrer pessoas com dor, dão-lhes medicamentos que as aliviam sem as derrubar, e que lhes permitem terminar a sua vida tranquilamente, fazer as coisas que querem fazer durante o tempo que lhes resta - arrumar as suas coisas, fazer uma viagem para visitar um castelo, uma igreja que sempre quiseram ver, reconciliar-se com os seus pais ou com os seus filhos, contar a sua história de vida para que algo reste dela…
No trecho acima, extraído do livro “Les trois médecins”, de Martin Winckler, publicado em 2004, a senhora Moreno, faxineira do alojamento de estudantes da fictícia Faculdade de Medicina de Tourmens, narra um diálogo seu com o estudante Gray, ocorrida em novembro de 1974.
Ao que parece, nesse momento, o que denominamos hoje de cuidados paliativos era ainda novidade. É possível que Gray tivesse visitado o St. Christophers Hospice, em Londres, e quiçá conhecido Cicely Saunders, enfermeira, assistente social e médica, considerada pioneira no campo dos cuidados paliativos na década de 1960.
É certo que Gray visitara um serviço hospitalar dedicado a cuidar de pessoas que iriam morrer, muito provavelmente acometidas por doenças tidas como terminais, sem possibilidade de cura ou controle suficientes para interromper sua evolução até a morte em tempo considerado inapropriado.
Chama a atenção dois aspectos principais: a preocupação com o alívio da dor, frequente entre portadores de câncer terminal e responsável por sofrimento importante, limitante e continuado, e o respeito ao paciente no que diz respeito a como deseja viver o tempo que lhe resta diante da doença grave que lhe ceifa anos de vida.
Graças à literatura, é possível ensinar aos futuros médicos que o cuidado de pacientes considerados incuráveis ou terminais vai além do mero respeito às diretivas antecipadas que possibilitam ao paciente manifestar previamente sua vontade acerca de quais tratamentos médicos quer ou não se submeter caso futuramente estiver em estado de incapacidade. O trecho acima amplia o espectro de possibilidades dos cuidados paliativos para além dos tratamentos e documentos. Nos convida a conversar com o paciente sobre projetos de vida.
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